07/03/2022

Uma breve história dos nossos gatos - Diva

Diva

Tinham passado dois meses desde o falecimento da Fofa, parceira de 15 anos. Ouvi miados na escada do prédio, fui indagar, abri a porta e, deparei-me com esta gata totalmente desorientada. Subia uns degraus para o piso superior, cheirava o chão e o ar, voltava para trás. Descia uns degraus, fazia a mesma coisa e voltava para trás. Procurava o seu próprio rasto sem sucesso. Alguém a trouxe pelo elevador e deixou-a ali. Alguém que sabia da nossa perda recente e achou que havia ali lugar para um gato novo. Realmente a melhor forma de processar o luto de um gato é arranjar imediatamente outro. Deixei a porta aberta e voltei para dentro de casa. Se quiseres, entra, pensei. Preparei uma tijela com água, outra com comida (só havia dieta renal que tinha sobrado da Fofa). Quando dei por isso, tinha-a ao pé de mim. Comeu, bebeu e foi explorar as instalações sem me passar cartão nenhum. Mantive a porta aberta mas passado uns minutos era óbvio que ela não tencionava ir embora. Ficou até hoje, (seis anos e a contar). É daquelas gatas com uma postura claramente altiva que nos reduz à insignificância com um mero olhar. Diva é o nome adequado. Fomos ao vet, estava perfeitamente saudável mas, minada de pulgas. Resolveu-se. Recusava terminantemente subir para o que fosse, ou estar noutro plano que não o chão. De onde veio devia ser proibido. Quando ouve um cão ladrar na rua, mesmo ao longe, rosna e põe o pêlo em pé. Somando dois mais dois, teve casa, fugiu ou foi corrida, andou na rua uns tempos e, teve uma má experiência com cães. Demorou meses a perceber que nesta casa não se proibe o comportamento natural de um gato. Agora trepa e sobe para todo o lado à vontade dela. Como nunca teve comportamento de cio, desconfiámos que já estivesse castrada. Fomos ao vet, explicámos a situação, e pedimos para fazerem uma ecografia primeiro, não queríamos sujeitar a gata a uma cirurgia inútil. O vet meteu os pés pelas mãos e operou sem fazer a eco. Confirmou-se, já era castrada. Estava o vet a inventar desculpas para um Carlos Paiva furioso e muito perto de ficar fora de si, enquanto segurava a Diva pelo cachaço em cima da mesa. Acabada de sofrer uma cirurgia de barriga aberta, ainda sob o efeito da anestesia, segura pelo cachaço por um homem adulto com mais de um metro e oitenta de altura, demorou exactamente 0,0001 segundos a transformar a mão/braço do vet em tiras. Deixámos ficar a coisa assim e quando chegámos a casa ainda estávamos a rir. É uma simpatia de gata. Mas não se metam com ela. No inverno passado teve uma crise brutal de rinite, foi internada e a coisa esteve feia. Vamos ver como corre este ano. Desde há uns dias que já pede para vir dormir conosco dentro da cama. Enroscada no meu sovaco e com o queixo assente no meu ombro. Sou um sortudo. Embora ela tenha escolhido a minha mulher, entendemo-nos perfeitamente.




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