11/06/2024

Ciência, esse incómodo irritante.

Arrepio-me quando palavras como "rigor" e "exactidão" são enroladas em interpretações cheias de flexibilidade.

Em contexto artístico, o pior que pode acontecer, é um momento de  desafinação, um horizonte inclinado, um ponto de fuga não coincidente. Causa algum desconforto ao leigo, suscita emissão de crítica ao entendido. Mas não passa disso, um percalço, uma lomba no pavimento e, a viagem prossegue. Incomoda, mas não compromete o todo. Resume-se a uma experiência aquém do perfeito. É só.

Quando "rigor" e "exactidão" são vítimas de interpretação e flexibilidade noutros contextos, pontes ruiem, aviões despenham-se, pessoas morrem. Se a juzante as consequências possuem um potencial dramático, a montante, ainda pior.

Enquanto pedagógico e académico, o "rigor" e a "exactidão", não podem constituir-se de componentes interpretativas flexíveis. Está a formar-se a linha base que vai estabelecer toda uma mecânica de pensamento para o futuro. A energia não é, mais ou menos, igual à massa vezes a aceleração ao quadrado. A soma do quadrado dos catetos não é, aproximadamente, o quadrado da hipotenusa. D. Afonso Henriques não foi um ambicioso primeiro CEO de Portugal. A bússola não aponta o Norte, mais ou menos, algures para aquele lado.

Há uma justificação perfeitamente justificada para o rigor e exactidão serem absolutos no ensino. A necessidade de o ponto de partida assentar em certezas. Sabermos exactamente onde estamos, para partir rumo ao desconhecido, à aquisição de novo saber, não rumo ao passado, conhecido. A interpretação flexível do rigor e da exactidão condena a navegar em círculos. Conduz apenas a um lugar: o erro.

Mesmo em política. Principalmente em política.


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