Os anos passam e a inevitabilidade do ocaso apanha-nos de surpresa. Chegou a sua hora e partiu.
Das muitas influências culturais que me constituem, uma fatia relevante é da responsabilidade de uma loja de discos na minha cidade natal. A loja de um teimoso obstinado. Irredutível nos seus valores e princípios. Defendia a liberdade de expressão e pensamento como poucos. Insistiu em viver para a cultura e da cultura numa cidade que despreza a cultura. Uma vez, há décadas atrás, um amigo comum comentou da seguinte forma a postura que o definia: O Baltazar é como o papel higiénico. Nunca rasga pelo picotado.
Dedicado com dedicação a nichos de mercado, música para minorias, o insucesso comercial não foi propriamente surpresa. Localizado em território hostil e adverso à cultura, onde nem o popular mainstream medra, apenas a mediocridade e a subserviência progridem, o Antro do Taful ousou existir. E isso, só por si, é admirável. Exclusivamente alguém com um carácter irreverente conseguiria tal feito.
Reconheço e agradeço o pedacinho de mim talhado por ele. Fui beber muito, imenso, ao António Sérgio (Lança Chamas, Som da Frente, Hora do Lobo), ao Tommy Vance (Friday Rock Show), à Metal Hammer UK (ainda hoje), e, à loja do Balta. Partiu uma referência na minha história, partiu um amigo. Sempre que entre no meu campo de visão um maço de SG Gigante e uma caixa de fósforos, vou-me lembrar dele.
Acho que vou passar algum tempo sem ouvir o Mourning Sun dos Fields of the Nephilim. Agora que penso nisso, todos os CD's que possuo de Fields of the Nephilim, foram comprados lá. Farei um hiato, pela memória e, pela tristeza da perda.

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