03/05/2025

Old, older, oldie.

Em convívios informais com malta aproxidamente dentro da minha faixa etária, tenho vindo a aperceber-me que ocorre espontaneamente uma intolerância às gerações mais novas. Transversal. Seja em ambiente profissional, vida pessoal, convívio social, está inquestionavelmente presente. Não se trata de generation gap, muito menos de misoginia. É outra coisa qualquer. Eventualmente agudizado pelos resultados da engenharia social, pelos paradigmas e condicionalismos que ditam a mecânica dogmática que tudo gere, o que começou como incómodo ligeiro evoluiu para repugnante. Atingindo por vezes a impossibilidade de comunicação, a recusa em partilhar o mesmo espaço físico.

Malta a ponderar a reforma antecipada, a reinventar carreiras profissionais, a virar a aquisição de competências para cenários anteriormente impensáveis. Tudo para se afastarem, ou, pelo menos reduzir a um mínimo, o contacto com a nova ordem. Ou o que quer que seja que lhe chamem agora.

Não é um retorno saudosista às origens, pois a vitalidade que nos resta é empregue a trilhar novos percursos, não a arrepiar caminho. Seguimos em frente mas, desviados das tendências modernas, maioritárias.

Apesar de ser altamente alérgico a fungos, descobri um prazer enorme no cheiro a mofo exalado pelos livros e discos velhos, antigos. O cheiro a óleo de cedro, a cera, em móveis centenários. O som roufenho e abafado de um rádio a reproduzir onda média por um altifalante com cone de cartão. O cuidado necessário no manuseamento de uma bengala que afinal é um punhal. Fui apanhado de surpresa pela sensação reconfortante que uma feira de antiguidades me proporciona. Dei por mim a pensar que, existindo meios financeiros, o recheio e a decoração do lar, a começar hoje, seria integralmente algures entre sucata e museu.

Admito a possibilidade matemática de ocorrerem coincidências, no entanto, sou igualmente obrigado a admitir que, nunca presenciei nenhuma. Não me parece que este abismo crescente seja consequência hormonal nem diferendo geracional tecnológico. Julgo vir de algo relacionado com a percepção de longevidade e resiliência enquanto oposto ao imediatismo e futilidade consumista. Porque o confronto com a mortalidade, foi racionalização tida há muito.

Estou velho. Sim. Inegável. Mas se há coisa que a velhice sobrepõe ao estardalhaço da juventude ignorante é a elegância e sofisticação. Vou degustar o momento. Por breve que seja. Sorrio ao efémero com ar conhecedor, sem qualquer esforço despendido no acto, o cinismo é opcional. Não interessa o destino, o importante é a viagem.

Sem comentários:

Enviar um comentário