25/09/2024

Recap

Por motivos irrelevantes, dei uma voltinha pelo Mortalhas e Lume desde o seu início e, sobressaíram algumas lacunas, capazes de transmitir uma imagem algo desfocada relativamente ao seu propósito. Fotografias sem título, tentativas diferentes da mesma fotografia com anos de intervalo, textos a abordar o mesmo tema também com anos de intervalo. Textos cujo sentido só seria perceptível num determinado contexto, ausente.

Enveredei pela tarefa de atribuir os títulos em falta nas fotos, passar a sinalizar as repetidas como "remake". Nos textos, decidi não tocar em nada. Nem corrigir gralhas sequer.

As repetições temáticas nos textos, tiveram (têm) por origem, uma sensação de falta de plenitude na primeira abordagem. Um ângulo que tinha passado despercebido ou um pressuposto demasiado ousado, condicionavam uma interpretação com o detalhe pretendido. Ou, a vida cofrontou-me com a mesma coisa numa altura diferente e, a minha maturidade actualizada, encaixou o evento de forma diferente. Daí, cada versão manter o seu sentido, relativo a uma cronologia. A actualização ou correcção iria falsear o objecto. 

Isto, porque estar senil e, não me lembrar que já tinha escrito acerca daquele tema no passado, está fora de questão. O ego nunca iria permitir uma admissão dessas.

Na nossa existência, escrava do tempo (e de tantas outras coisas), não são raros os casos em que, uma experiência ocorre demasiado tarde para servir de lição, obliterando uma utilidade por vezes de valor inestimável. Desfasamentos de maturidade tornam-se obstáculos, por vezes impeditivos para a continuidade de determinado percurso. Pessoas que se conhecem na altura errada. Pessoas que se revelam demasiado cedo, ou, demasiado tarde. Ritmos de evolução diferentes. Diria que, o fundamental para a harmonia, é o sincronismo. Na sua ausência, mudam-se percursos, desbrava-se terreno, improvisa-se com o que há.

Estou cada vez mais apreciador de anti arte, dissonância, ruído. Talvez por isso, consiga agora olhar para estruturas perfeitas e, perceber a esterilidade implícita. Existe algures na cronologia um ponto onde, a decisão entre resignação e reinvenção, se torna clara. Talvez tenha origem num gene lusitano, povo eternamente dividido entre a resignação de ficar, confinado num espaço limitado, tanto físico como metafísico e, o risco de partir, enfrentar o mar, o desconhecido, singrar no inexplorado.

Se a existência for uma estrutura perfeita, sincrónica, rigorosamente tudo, é previsível. Os seres vivos têm necessidade absoluta do imprevisto, da mudança, fundamentais para a evolução. Em ambiente asséptico, nada acontece.

Estático, é um calhau. A primeira publicação do Mortalhas e Lume.

Espero ter dado algum contexto, útil, para a interpretação plena deste blog.

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