07/09/2024

Experimental

O Experimental, por definição, é singular, único. Logo que a experiência é popularizada, eventualmente dando origem a uma estética classificável, torna-se um movimento catalogado. Independentemente do número de seguidores ou adeptos, sendo mais ou menos popular, deixou de ser Experimental. Passou a ser método. Especialistas, críticos e académicos, identificam-lhe os predicados, a metedologia de produção, os conceitos artísticos que desafia, os dogmas que põe em causa e, etiquetam do alto da sua autoridade o objecto artístico. O objectivo Experimental do autor fica cumprido antes desta ocorrência. Não necessita desta (suposta) validação para conclusão de processo.

Chegado aqui, o autor pode optar por seguir a estética que criou, explorando-a comercialmente ou, considerar o assunto encerrado, partindo para outros projectos, continuar a experimentar, assumindo o papel de exclusivamente experimentalista.

Daí, movimentos estéticos com nomes atribuídos, podem em tempos ter sido experimentais, mas actualmente não o são. São um estilo, uma onda, um género, um subgénero.

Harsh Noise Wall, Splittercore, Pornogrind, Musique Concréte, Low-Fi, mais uma miríade de designações por vezes demasiado obscuras para elucidar acerca do conteúdo e contexto, passado a faísca inicial experimental, tornaram-se movimentos estéticos. Em termos de experiência auditiva, todos são válidos, em termos sónicos, todos são interessantes. Afinal, a audição é o nosso sensor principal. Ainda no ventre materno, é a primeira aquisição de informação externa ao nosso universo que temos contacto com. O primeiro exercício cognitivo das nossas vidas é sonoro.

Nova tentativa de experimentalismo posterior é exercida no suporte de gravação e distribuição do objecto artístico. Desde mídia intencionalmente danificado, microcassetes, disquetes, manual e trabalhosamente personalizados, atentam ao consumismo capitalista, aludem à obsolescência, à decadência, ao efémero, embebendo no objecto artístico uma postura também política, transcendente ao conteúdo veiculado.

Podendo por vezes ser interpretados como saudosistas ou revivalistas, o negócio eventualmente acaba por sobrepor-se aos princípios e valores defendidos pelos autores destas obras. Exemplos disso são os valores absurdos que tais exemplares atingem no mercado de coleccionismo. Paradoxal ou irónico, o fim de percurso da experiência, termina sob forma comercial. O revivalismo da cassete, outrora risível, tem hoje o seu Cassete Store Day, á semelhança do Record Store Day, também ele com origem na revitalização de outro suporte julgado obsoleto.

Se a experiência, no seu início, é baseada no incógnito, o resultado é certo: comercial. A cultura do Trading consegue subverter o paradigma, mas só um bocadinho. Afinal, morte e impostos são as únicas certezas, além de, não haver refeições grátis.

Felizmente, ainda existe malta que faz, só porque sim. Experimentalismo é preciso. Gosto de pensar que derrubar barreiras e expandir o conhecimento é intrínseco à existência humana. Se se resumir à margem de lucro, seremos imensamente pobres.

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