15/08/2024

Bores

Um Caracal, espécie protegida, é comprado ilegalmente em bebé. Vive toda a sua vida, seis anos, saudável e feliz, perfeitamente integrado numa família de humanos e animais domésticos. É alimentado adequadamente, tem acesso a cuidados veterinários, tem acesso a espaço ao ar livre (a família vive numa quinta). Não há registo de qualquer incidente adverso, tanto para o Caracal como para terceiros. Durante seis anos ninguém deu por ele sequer.

Por via de denúncia anónima, claro, o estado intervém para impor a legalidade. O animal é retirado compulsivamente da família e do espaço que conheceu toda a sua vida, realocado para um local sem condições adequadas à sua espécie, para um ambiente sensorialmente hostil. A família é multada.

Passa um mês e o animal, agora dentro da legalidade, está morto. E a família emocionalmente destroçada.

A cadeia de imbecis que permitiu que uma barbaridade destas acontecesse, devia ser triturada, para fazer comida para gatos.

O meu único espanto nisto tudo é, o passe de magia que fez uma série de continentais esquecer como funciona a ilha da Madeira. Permitindo uma oportuna e emotiva indignação acerca da (evidente e inegável) incompetência estatal. Olha que conveniente! Fantástico.

Depois vieram os cretinos do costume sublinhar a ilegalidade da situação e dar lições de moral acerca de captura, tráfico, reprodução em cativeiro (para fins comerciais) de espécies selvagens protegidas, como se fossem especialistas do assunto e, tivesse sido esse mercado abjecto a matar este Caracal. Não, não foi. Foi legislação aplicada com excesso de zelo, sem meios nem recursos para a operacionalização implícita. Irresponsabilidade clássica.

Toda a gente, pessoas e instituições, cumpriram zelosamente o seu papel, rigorosamente dentro da lei. Foram religiosamente seguidas as linhas orientadoras escritas nos manuais. O resultado final? Uma asneira colossal. Dramaticamente irreversível. Bom senso, nem vestígios.

E agora, a culpa é da ilegalidade inicial que, pôs a máquina em movimento. Quem fez tudo mal, sacode a água do capote para cima de quem fez tudo bem, excepto o pormenor da ilegalidade inicial. Já chegámos à Madeira, ou quê?

Tudo, rigorosamente tudo, nisto, me revolta. Mas os cretinos que oportunamente esqueceram como funciona a ilha da Madeira têm lugar de destaque na fossa séptica. Incluindo o insular imbecil invejoso que fez a denúncia.

Leva-me pró cont'nent.

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