30/03/2022

Eu é que sou o brelezidente da junta!

Uma das técnicas mais básicas (e antigas) de manipulação é, reduzir ao preto e branco, sim/não, o tema em discussão, seja ele qual for. Assisto frequentemente à aplicação desta técnica nos mais diversos campos. Vulgar tanto na comunicação social como no quotidiano, nas relações pessoais, sociais. É especialmente delicioso quando aplicada por malta que defende aguerridamente o pluralismo. Malta que sistematica e cuidadosamente cultiva a imagem pública de "mente aberta". Essa mesma malta quando confrontados, seja por opiniões diferentes da sua ou, por exposição da técnica manipulativa usada, parte para o insulto, é a cereja no topo do bolo. Não importa o quanto articulados fluentes cultos esclarecidos sejam, revelam-se ditadorzinhos em potencial. O traço mais básico está lá: A falta de carácter. Outra técnica para o mesmo fim, mais elaborada mas ainda no patamar básico, é a relativização. Muito em voga porque, para grunhos, passa a imagem de elevado nível  intelectual. Superioridade. Na realidade é ao que se resume isto tudo: Superioridade. Colectivo ou individual, o ego manda e comanda. Em termos cronológicos só recentemente as ciências médicas relacionadas com o comportamento e a construção da personalidade, deram como dado adquirido a importância dos afectos pelos progenitores às crias, em idades chave. Em fases específicas do desenvolvimento da criança e do jovem, afectos em excesso produzem determinado resultado, ausência de afectos produzem outro. Algures pelo meio está a virtude. A mecânica do ego é formatada directamente por esta dosagem de afectos. De forma genial, Stanley Kubrick faz referência a isto no seu filme de 1987, Full Metal Jacket: "...did mommy and daddy didn't give you enough attention when you were a child?.." Precisamente por este contexto, há uns anos atrás, samplei e usei esta linha do filme num devaneio musical inconsequente, mas que me deu imenso prazer produzir. A necessidade absoluta de superiorização acaba por ser um tiro no pé ao revelar claramente onde se situaram os afectos dos progenitores desses indivíduos. Municiando o eventual adversário na discussão com  argumentos de uma eficácia cirúrgica. Expõem que teclas pressionar para obter determinado resultado, revelam o manual de utilização. Daí, a postura tão típica da actualidade, "se não estás comigo, estás contra mim", indiciar gerações inteiras com graves deficiências afectivas. Aleijadinhos emocionais, inseguros crónicos, escondidos atrás da propaganda auto-enaltecedora que difundem. E, em última análise, acreditam. Sociopatas que se prestam a tudo para tentar preencher um vazio perpétuo, evitável com um carinho da mãe ou do pai na altura certa. Os danos que infligem a quem lhes é próximo, os danos que perpetuam nas gerações seguintes, fazem desta realidade um flagelo. Não é de admirar a proliferação de florzinhas de estufa que se ofendem com tudo, a adopção do politicamente correcto, a par dos horrores da guerra ao vivo e a cores na televisão com um balde de pipocas ao colo. Tudo evitável com um carinho dos progenitores. Ou, houvesse carácter para autonomamente, ou com ajuda, identificar, reconhecer, enfrentar, corrigir a deficiência. É mais fácil e confortável espezinhar quem se atravesse no caminho do ego. Esconder a deficiência atrás da cretinice, ao invés de ser melhor ser humano. Pelo menos, mais equilibrado. Viva o ego.

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