02/11/2014

Times, they are changing.

Por não ter ainda contribuído para a perpetuação da espécie, não acompanhei a evolução dos tempos no que respeita a programas lectivos, ou programas curriculares. Lembro-me como era na minha altura. Há séculos atrás. Depois disso, ignoro absolutamente as metodologias empregues no ensino.
Como cidadão minimamente informado, sei que houve grandes alterações. Quais…? Ignoro.
Nos contactos sociais fur...tuitos com gerações mais novas, deduzo que, nem todas essas alterações e remodelações, foram coroadas de sucesso.

Recordo-me que o domínio da língua materna se iniciava com a cópia. Era apresentado um texto e os alunos copiavam-no. O passo seguinte era o ditado. O professor ditava um texto e os alunos escreviam. O patamar final era a redacção. Era proposto um tema, um tópico. E os alunos desenvolviam-no, pelos seus próprios meios.
A mesma fórmula acontece nas artes. Música, artes gráficas, literatura. Primeiro aprende-se a executar algo já feito. Copia-se. E vai-se evoluindo, até o individuo ser capaz de criar as suas próprias obras. Perdoem-me a visão muito macro.
Esta metodologia era empregue na escola primária. Nos primeiros quatro anos de ensino, onde a idade inicial dos indivíduos seria de cinco ou seis primaveras. E chumbava-se. Sim, isso era possível.
Além da lição sobre o domínio da língua materna, falada e escrita, aprendia-se algum nível de responsabilidade. Para alguns, o primeiro que tiveram contacto.

O objectivo pretendido com o exercício da redacção, acaba por ser o que mais me interessa. Por ser o nível mais alto desta metodologia de aprendizagem, mas também, por ser o que estimula a imaginação. A livre associação de ideias, canalizada por um tema.
O patamar final será, a criação pura. Inventar a partir do nada. Da folha em branco, do silêncio, à obra. Sem limitações, seguindo um fio condutor definido pelo próprio autor e não por outrem.

Sempre admirei quem o consegue fazer. Independentemente da simplicidade ou da complexidade da obra resultante, atribuo um valor inestimável á criação. Apenas, por ser isso mesmo, criação. Algo que não era e passou a ser. Algo novo.
Aprecio especialmente o visceral, sem filtro, sem objectivo aparente, sem propósito evidente. Sem porquê. Mesmo que feio. Novo, não é sinónimo de beleza.

Considero que a arte, seja ela qual for, quando sujeita a uma finalidade, fica relegada para o papel de veículo. Meio. Sendo a mensagem que transporta, a finalidade, o “core” da obra. A sua razão de ser.
Em tempos achei que a obra, sem mensagem, se resumia a um exercício. Um conjunto de fórmulas. Funcional é certo, mas vazio.
Hoje, não concordo.

Uma das funções da arte é, precisamente, jogar com a presunção da mensagem embutida. A criação que nos obriga a pensar, a tentar descortinar a lógica, o fio condutor no meio daquilo tudo. É a obra perfeita. Obriga o individuo a explorar. Sair da sua zona de conforto, despir-se de preconceitos e abrir a mente ao diferente. A imaginação induz imaginação. Perfeito.
Afinal, a tal lógica, o tal fio condutor, a mensagem. Depende em absoluto da interpretação do receptor. A forma como é vista, depende em absoluto de quem vê. Com a sua obra, o autor, criador, apenas deu o mote. O resto… é da inteira responsabilidade do receptor.

Não retiro valor aos artistas que ficaram pelo patamar da “cópia” ou do “ditado”, nunca atingindo o nível da “redacção”. Muitos, tornaram-se exímios nesses exercícios. Outros tantos até fazem vida disso. O título de “artista” assenta-lhes como uma luva. Mas não são criadores. Não pariram absolutamente nada.
Este facto não me impede de os apreciar. E até, em casos raros, admirá-los. Pelo impecável profissionalismo com que executam. Eu… nem ouso aspirar a tal imaculada execução. Sou demasiado condescendente comigo próprio, vulgo preguiçoso, para dedicar as horas necessárias á causa, de modo a conseguir executar daquela forma… Por vezes, perfeita.

No entanto, crio. Sem vergonha nenhuma.
Simplista ou mesmo simplório, crio.
Porquê? Porque, como já disse, admiro quem cria. Os meus heróis são os criadores. Sigo essa corrente. A dos meus heróis. Vítima da minha auto indulgência, nunca chegarei longe no percurso. Mas tenho outra certeza: É a direcção que faz sentido.

Não tenho culpa. Foi a metodologia de ensino da minha altura…

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