17/06/2011

Fado.

Tenho ouvido varias vezes que uma das saídas para a "crise" seria os Portugueses passarem a consumir mais produtos nacionais. Inclusive, andou por aí a circular um e-mail que elucidava os consumidores acerca dos códigos de barras dos produtos, de modo a identificarem o que é feito por cá.

Grande treta.

A norma EAN13, (que regulamenta os códigos de barras, com treze dígitos) apenas define que para Portugal os primeiros três dígitos são 5, 6, 0. Não relaciona de forma alguma, o código de prefixo 560, com a manufactura do produto em si.

Vejamos por exemplo... o tijolo. Aquilo que todos iremos fazer, debaixo de sete palmos de terra.
Importo o barro, importo o forno, importo o combustível para o forno, emprego mão-de-obra imigrante, e quando sai o tijolo cozidinho da silva, espeto-lhe com o 560 e garanto desta forma que é genuinamente nacional. Depois carrego-o no camião recorrendo a empilhadores importados, a queimar combustível importado, distribuo-o em veículos importados também a queimar combustível importado. E quando o português o compra, em Portugal, numa loja pertencente a um franchise estrangeiro, fica com peito cheio de orgulho nacionalista, porque está a comprar um produto feito em Portugal. E a ajudar a suplantar a "crise".

É a mesma coisa que um casal espanhol vir parir uma criança a Portugal. E nós rejubilamos de alegria porque nasceu mais um português.

Ó que caralho. Mas já ninguém é capaz de raciocinar?

Não me identifico de maneira nenhuma com a extrema-direita e com nacionalismos absurdos. Mas acho que devia aparecer por aí um ditadorzinho que ditasse a reformatação do cerebrozinho do portuguezinho obedecendo ao requisito de QI Mínimo.

A "crise" é a mera consequência do capitalismo assentar no pressuposto do crescimento contínuo. Ad eternum.
É obvio que não há nada que cresça continuamente, para sempre! Até a expansão contínua, eterna, do universo é apenas uma TEORIA.

Por agora já chega.
Vou ali ao Intermarché comprar um queijinho suíço, com código 560. Quando voltar para casa, sento-me na minha cadeirinha comprada no IKEA, com o código 560, a ver o DVD "O Costa do Castelo", comprado na FNAC com o código 560, na minha TV Samsung, comprada na Worten com o código 560. Para me sentir um verdadeiro Português a ajudar Portugal.



PS - Um dos ícones nacionais, a guitarra portuguesa, é actualmente feita em Espanha. Os poucos artesãos nacionais que ainda a construíam, são pessoas de idade avançada, sem seguidores/aprendizes da arte.

3 comentários:

  1. melhor ainda são os produtos feitos lá fora, simplesmente montados ou embalados cá e vendidos com o belo 560. Enfim... acho que o ditadorzinho ía dar jeito ía ;)

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  2. Anónimo17/6/11

    tento comprar produtos com o selo de produto nacional.
    um aparte, identifico-me com a direita, não me interessa se lhe chamam de extrema. peru menores...

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  3. E o português é assim... gosta de levar...e mais não digo, deduz-se. Gostei deste teu texto.

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